A vida de Jesus na alma do homem
Rubens Muzio
"A imagem de Cristo está sendo formada dentro da sua alma"
Me parece que o deus falado e exaltado nos corredores e nas comunidades, nas ruas e nos programas de televisão é uma figuração muito diferente do Jesus-Deus da Biblia. Um vulto de Deus. A representação de um deus gnóstico, um reflexo de nosso psiquê, o eu (self) fantasiado pelos desejos e marcarado pelos sentimentos e filosofias humanas. Sobre esse deus vagamente esboçado em nossa mente - meio zeus, meio orixá - nós dizemos: “se deus quiser”, que “deus te abençoe”, sem ter idéia de quem ou com quem realmente falamos. Esta idéia de deus fica ainda mais embaçada quando tratamos Deus como se fosse a relação pai-filho. Os esforços dos filhos para satisfazer seus pais com boas ações estão mesclados ao medo do inferno e ao receio que o papai “pare de me amar”. Misturam-se aos interesses próprios de crianças mimadas que ficam de mal e viram a cara para Deus quando suas orações não são bem atendidas. Esquecem-se que Pai amoroso é milhões de vezes melhor que o melhor pai do mundo! Nada pode mudar seu amor por nós. Criamos um deus parecido com o velhinho de longa barba branca que se senta no shopping na época do Natal: um verdadeiro papai Noel, gordo e bonachão. Outras vezes, projetamos nele aquela bondade da vovó que engorda, mima e cuida dos netinhos. Nos esquecemos do antigo epigrama judaico: "Deus não é um tio velhinho e bondoso; ele é um terremoto".
O verdadeiro cristianismo é a união da alma com Deus. Quando João afirma que importava que Jesus crescesse e que ele diminuísse, mal sabia ele que essa seria uma das metáforas mais importantes para a vida do cristão: que Cristo cresça e sua vontade se expanda mais e mais dentro de nós; “pelo amor de Deus”, que o nosso eu diminua, se encolha, desapareça para o nosso próprio bem. Paulo consolida dizendo em Gl 2:20 que a própria imagem de Cristo é formada em nós: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”; e depois em Gl 4:19 afirma o seguinte: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós”. Aproprie-se destas verdades.
Logo antes da Reforma Protestante, Erasmus declarou que Deus era simplesmente a “vida na alma humana”. Ele não estava longe da verdade. Na verdade, quando eu disse que você se torna participante da natureza divina e a imagem de Cristo está sendo formada dentro da sua alma, eu falei sério. Assim brota no seu coração uma fonte de vida interna que dá movimento para a vida espiritual, uma fonte com novos recursos e imenso poder, livre e auto-movedora.
Sendo assim, conhecimento de Deus é conversão ao cristianismo (1 Tm 4:3, Cl 1:16, 2Pe 2:21, 2Tm 2:19, Mt 7:23, 1Co 8:3, 13:12, Gl 4:9). O seu conhecimento de Deus será genuíno apenas quando estiver enxarcado pelo amor-agape de Deus. Você conhece Deus quando amá-lo de todo o coração, de toda a sua alma, com todas as suas forças e com todo o seu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo (Lc 10:27). Quem conhece ama; e quem ama mesmo Jesus obedece seus mandamentos e exigências (Jo 14:31; 13:1ss; 15:9,12ss).
Jesus, o único caminho a ser percorrido; a única via de acesso ao conhecimento de Deus. Através dele, o amor de Deus (seus frutos e bênçãos) é comunicado a você e através dele o seu frágil amor alcança o Pai. Em Cristo somos levados ao Sol, atraídos à fonte do eterno amor. Cristo é o raio do sol, Deus é o próprio sol de amor; Jesus é o afluente de água, Deus é a própria fonte de onde todo amor flui. Nele estão as nascentes de águas, o nascedouro nas montanhas, de onde brotam, originam-se as águas do rio da vida, a nova natureza que emana da vida divina. De Deus, do seu trono corre um rio de águas, que brota dentro de nós. Aqui se encontra o sentido do texto de Jesus em Jo 7:38: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. O cristão genuíno não apenas bebe da água da vida que flui da fonte original que é Cristo; a água se torna uma fonte a jorrar de dentro do cristão, transbordando para fora nas suas relações e ações. A somatória de toda felicidade e prazer espiritual neste mundo é descrito em João 4:10 como “rios de água viva”. Este rio de prazeres representa o Deus-Espírito. Ele é fonte de água que dá, nascente de amor líquido e depósito de vitalidade espiritual que flui do trono de Deus e do cordeiro Jesus.
Como um florzinha que se murcha sem a porção regular de água, você precisa constantemente refrescar-se com novas borrifadas da água do Espírito. Períodos de despertamento espiritual em sua vida e na sua igreja se alternarão com períodos de sequidão e escuridão espiritual. Deus precisa frequentemente injetar novas doses de vigor em seu povo a fim de que não se resseque, se esfrie, desfaleça e desanime. Por causa disso há entre vocês muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem (1 Co 11:30).
A água da vida de Deus é manancial mais prazeroso que todos os apetites humanos somados e multiplicados por bilhões. Matamos e morremos pelos prazeres da comida e bebida, namorar e fazer amor, assistir TV e ganhar dinheiro, ou curtir os inúmeros entretenimentos da vida pós-moderna. Temos apetites e vontades, desajamos e cobiçamos muitas coisas. Um grande teólogo disse corretamente que o coração é uma fábrica de desejos. Esses apetites nunca são destruídos completamente ou extirpados integralmente da alma. Novos apetites continuarão a brotar. Mesmo aqueles que findam a terceira idade confirmam isso. Não adianta suprimi-los com o uso da pressão, opressão, moralismo ou legalismos. A não ser que você encontre algo melhor que eles, a luta contra a carne estará perdida. Mas há uma boa notícia para você: os insaciáveis apetites e desejos podem ser controlados e suplantados por um apetite muito superior, por assim dizer “uma nova forma de fazer as coisas”, por um novo elemento na constituição da alma: a vida de Deus na alma do homem.
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